Este texto surge após
incessantes interpretações sobre A Teoria do Medalhão de Machado de Assis, escrito no ano de 1881. O conto narra um conselho paterno
após um jantar em comemoração ao aniversário do filho, este que
estava completando 21 anos. O entendimento desse diálogo depende
também da análise do momento histórico e filosófico vivido pelo
autor .
No século XIX, o
movimento artístico e denominado Realismo iniciou-se, defendendo a
razão e se opondo ao idealismo, associado a crenças e em valores
morais românticos. O Realismo trata o ser humano como ele é, com
defeitos, imperfeições. É por esse viés que o autor considera a
sociedade burguesa, hipócrita, falsa. O Brasil, por sua vez,
preparava-se para o fim do Império Português e iniciava a
República. Após grandes revoluções políticas, o cenário da
escravidão estava se modificando, o cientificismo tornou-se
prioridade em matéria de conhecimento. Com isso, a filosofia, a
religião, além do próprio comportamento das pessoas foram
influenciados. Nesse sentido este texto objetiva fazer uma análise
do conto bem como traçar um paralelo dele com a sociedade
contemporânea.
No diálogo, o pai,
frustrado por não ter conseguido alcançar o ofício de medalhão,
deposita no filho a esperança de que um dia ele se torne um por
completo. Ser um medalhão é uma crítica feita pelo autor à
sociedade burguesa individualista, onde quem têm vez são pessoas
que não pensam, fingem ser o que não são, buscam o sucesso a
qualquer preço. O pai ensina que a vida é uma grande loteria, que
poucos têm sorte. E a precaução é olhar primeiro a si, mesmo que
passando por cima do outro. Esse é um dos ensinamentos de um pai
frustrado e um autor que critica a sociedade burguesa da época.
Que só pensa nos seus próprios interesses. Quem tem habilidade de
sair-se bem em todas situações sociais e astúcia para dissimular,
ganha.
O medalhão é um ofício
no qual a pessoa não precisa ser intelectual e nem fazer muito
esforço físico. É uma profissão a qual necessita de algumas
instruções. Comportar-se como medalhão é não pensar muito para
não ter idéias, pois elas fazem surgir opiniões controversas, e o
medalhão é boa praça, não diverge de ninguém. Por isso, ele
esconde seus gostos pessoais. Simulando, reutilizando frases
expressivas em discursos para aparentar intelectualidade. Esse é o
medalhão que a sociedade reconhece, o que vive de aparência. Em
uma sociedade que valoriza as pessoas que aparecem e parecem, o
Medalhão precisa divulgar uma boa imagem e ter fama, pois a opinião
da maioria limita qualquer entendimento sobre o que se é realmente.
E, para isso, não precisa ser sábio, apenas mostrar-se como um. Ser
um medalhão é se atuar conforme o que a sociedade deseja ver e
ouvir. Portanto, é necessário sempre ser popular, agradável e
simpático mesmo que não se queira.
A ironia de Marchado no
conto nos remete muito à sociedade atual do século XXI. A
publicidade e os meios de comunicação impedem as pessoas de pensar,
criticar e opinar. Os sábios, que tem idéias próprias, não são
mais valorizados. Mas isso não importa. Os medalhões estão por
todos os lados, principalmente na mídia, que tendo a principal
relação com essa influência, glamouriza os medalhões. Esses não
precisam ter ideias, por isso copiam, colam e publicam. É assim que induz as pessoas idolatrar alguém que nem do avesso é o que parece
ser. A sociedade contemporânea vive de produzir medalhões, para
isso propaga a imagem de quem quase não pensa. Através da
publicidade, induzindo a opinião pública e reproduzindo seres
ignorantes, pois quanto menos se pensa menos se exige. Na sociedade
moderna, apenas uma cena na televisão para os considerar importantes. Isso mostra o quanto o conto se relaciona com a
modernidade da ambição e da futilidade.
Portanto, conclui-se que
o conto tem uma preocupação extrema em mostrar uma sociedade que
vive de aparência. A
influência da mídia sobre ser humano o impede de pensar sobre a sua
ignorância e a das pessoas, por isso que toda pessoa basta ser
vista, que é lembrada.