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terça-feira, 5 de novembro de 2013

Se é assim. Que sejamos.

Este texto surge após incessantes interpretações sobre A Teoria do Medalhão de Machado de Assis, escrito no ano de 1881. O conto narra um conselho paterno após um jantar em comemoração ao aniversário do filho, este que estava completando 21 anos. O entendimento desse diálogo depende também da análise do momento histórico e filosófico vivido pelo autor .

No século XIX, o movimento artístico e denominado Realismo iniciou-se, defendendo a razão e se opondo ao idealismo, associado a crenças e em valores morais românticos. O Realismo trata o ser humano como ele é, com defeitos, imperfeições. É por esse viés que o autor considera a sociedade burguesa, hipócrita, falsa. O Brasil, por sua vez, preparava-se para o fim do Império Português e iniciava a República. Após grandes revoluções políticas, o cenário da escravidão estava se modificando, o cientificismo tornou-se prioridade em matéria de conhecimento. Com isso, a filosofia, a religião, além do próprio comportamento das pessoas foram influenciados. Nesse sentido este texto objetiva fazer uma análise do conto bem como traçar um paralelo dele com a sociedade contemporânea.

No diálogo, o pai, frustrado por não ter conseguido alcançar o ofício de medalhão, deposita no filho a esperança de que um dia ele se torne um por completo. Ser um medalhão é uma crítica feita pelo autor à sociedade burguesa individualista, onde quem têm vez são pessoas que não pensam, fingem ser o que não são, buscam o sucesso a qualquer preço. O pai ensina que a vida é uma grande loteria, que poucos têm sorte. E a precaução é olhar primeiro a si, mesmo que passando por cima do outro. Esse é um dos ensinamentos de um pai frustrado e um autor que critica a sociedade burguesa da época. Que só pensa nos seus próprios interesses. Quem tem habilidade de sair-se bem em todas situações sociais e astúcia para dissimular, ganha.

O medalhão é um ofício no qual a pessoa não precisa ser intelectual e nem fazer muito esforço físico. É uma profissão a qual necessita de algumas instruções. Comportar-se como medalhão é não pensar muito para não ter idéias, pois elas fazem surgir opiniões controversas, e o medalhão é boa praça, não diverge de ninguém. Por isso, ele esconde seus gostos pessoais. Simulando, reutilizando frases expressivas em discursos para aparentar intelectualidade. Esse é o medalhão que a sociedade reconhece, o que vive de aparência. Em uma sociedade que valoriza as pessoas que aparecem e parecem, o Medalhão precisa divulgar uma boa imagem e ter fama, pois a opinião da maioria limita qualquer entendimento sobre o que se é realmente. E, para isso, não precisa ser sábio, apenas mostrar-se como um. Ser um medalhão é se atuar conforme o que a sociedade deseja ver e ouvir. Portanto, é necessário sempre ser popular, agradável e simpático mesmo que não se queira.

A ironia de Marchado no conto nos remete muito à sociedade atual do século XXI. A publicidade e os meios de comunicação impedem as pessoas de pensar, criticar e opinar. Os sábios, que tem idéias próprias, não são mais valorizados. Mas isso não importa. Os medalhões estão por todos os lados, principalmente na mídia, que tendo a principal relação com essa influência, glamouriza os medalhões. Esses não precisam ter ideias, por isso copiam, colam e publicam. É assim que induz as pessoas idolatrar alguém que nem do avesso é o que parece ser. A sociedade contemporânea vive de produzir medalhões, para isso propaga a imagem de quem quase não pensa. Através da publicidade, induzindo a opinião pública e reproduzindo seres ignorantes, pois quanto menos se pensa menos se exige. Na sociedade moderna, apenas uma cena na televisão para os considerar importantes. Isso mostra o quanto o conto se relaciona com a modernidade da ambição e da futilidade.

Portanto, conclui-se que o conto tem uma preocupação extrema em mostrar uma sociedade que vive de aparência. A influência da mídia sobre ser humano o impede de pensar sobre a sua ignorância e a das pessoas, por isso que toda pessoa basta ser vista, que é lembrada.